POESIAS
SUICIDA
De que valem as filosofias
se a índole humana é egoísta
como um bolo sem receita
ou um chá de uma erva qualquer.
Harmonia só existe
se há uma ordem ditatorialmente imposta
como a feia figura sem sorriso
ou a burrice da linda mulher
Palavras bem colocadas
são literariamente belas,
formam frases memoráveis
mas que na vida têm tanto valor quanto:
um navio sem leme, sem âncora, sem vela;
uma ampulheta sem areia;
uma flor sem cor nem cheiro;
como um verso mudo de canto cigano;
um violão sem cordas
tocando uma canção de amor,
sem amor.
Somos suicidas desarmados
saltando de uma cadeira qualquer
nos braços da morte impossível
tentando nos agarrar
à indesejável vida.
末末末末末末末末末末末末末末末末末 Márcio
Britto ©
ANÁLISE
Tal qual artistas
vivemos entre ensaios e apresentações,
sendo alvo de olhos espectadores
que muitas vezes torcem
pela nossa queda.
Em busca de novas sensações,
lançamo-nos em aventuras
que pôr muitas vezes
se transformam em desventuras
e somos tragados
pôr nossa incessante
e insaciável ansiedade.
Assim vive cada um de nós
a sua vida, interligada a dos outros,
seja filho, pai, mãe, irmão
ou um transeunte
que se choca ou tropeça
em nosso corpo.
Sem solução
os problemas surgem e se vão,
sem nem mesmo nos trazerem
a satisfação de vitória
e mesmo antes
de serem esquecidos os velhos,
já encaramos os novos,
que como se nos sorrissem,
com seus dentes
amarelados e sem brilho,
da fria e sarcástica maldade,
que peca sem querer
pôr simplesmente ser
o equilíbrio existente
entre credor e devedor.
Vida, enigma tão bem transado
que se pararmos para analisar,
de forma mais profunda,
chegaremos a uma conclusiva loucura.
末末末末末末末末末末末末末末末末末 Márcio
Britto ©
CASTELO DE AREIA
Preciso ser forte e me afastar de vez
de tudo o que meu coração
sente de ruim.
Preciso esfriar meu afeto,
congelar minha saudade
e matar meu desejo de tornar a ver,
enxergando...
através das nuvens de recordações.
Preciso emudecer, paralisar-me
diante da dor da saudade,
que como o mar me invade,
como se eu não passasse
de um simples castelo de areia,
destruindo-me, corroendo-me,
desmoronando todos os meus planos
e arrastando todos os bons momentos
para o fundo lamacento
da solitária separação.
Aqui vou a lugar nenhum
sem sorrir, sem chorar,
sem nem mesmo entender
o que houve,
sem saber o que fazer.
Aqui vou voando como um suicida,
pelo céu, sem asas,
a me espatifar na calçada
da mundana e desiludida solidão.
Como um bêbado,
um viciado entorpecido,
cambaleio entre pensamentos
que vagam como eu
sem rumo, sem sentido,
à procura do nada...
sem querer encontrar.
Mas creio em Deus...
e preciso ser forte!
末末末末末末末末末末末末末末末末末 Márcio
Britto ©